O Sangue e a Flor de Cerejeira: Uma Jornada Completa pelo Universo Basilisk
- Allan m.Silva
- 10 de dez.
- 4 min de leitura

O Legado de Sangue e Aço que Definiu o Gênero Ninja
O universo Basilisk é sinônimo de tragédia shakespeariana combinada com ação ninja implacável. Baseada na novel épica Kōga Ninpōchō (A Lenda Secreta Ninja de Kōga) de Fūtarō Yamada, esta franquia estabeleceu um padrão de excelência para histórias de combate e romance proibido. Antes de mergulharmos na polêmica continuação, é essencial revisitar a obra que iniciou tudo.
Parte I: Basilisk: Kōga Ninpōchō (O Clássico Imortal)
O anime de 2005, produzido pelo estúdio GONZO, transcendeu a adaptação e se tornou um fenômeno. Sua força reside na simplicidade brutal de sua premissa e na profundidade de seus protagonistas.
A Tragédia Central: Gennosuke e Oboro
A história se passa em 1614, no auge do Período Sengoku. O Xogun Tokugawa Ieyasu, buscando resolver a disputa pela sucessão, decreta uma batalha de aniquilação entre os dois clãs ninja mais poderosos e rivais da história: Kōga Manjidani e Iga Tsubagakure.
O destino, no entanto, é cruel: o herdeiro de Kōga, Gennosuke, e a herdeira de Iga, Oboro, estão profundamente apaixonados.
O cerne do drama é a impossibilidade desse amor. O pacto de paz é quebrado, e cada clã deve designar seus dez melhores guerreiros para lutar até que apenas um clã sobreviva.
Clã | Herói | Habilidade Central | Destino |
Kōga | Gennosuke | $Dōjutsu$ (Olhos que revertem o $ninpō$ do inimigo) | Luta pela paz, mas é arrastado pela guerra. |
Iga | Oboro | $Muen no Hitomi$ (Olhos que anulam todo $ninpō$ na visão) | Luta pela paz, mas é forçada a carregar a maldição do ódio. |
O Combate e a Poesia da Morte
O que torna o $Basilisk$ original tão impactante é a galeria de personagens secundários inesquecíveis. Cada um dos vinte ninjas possui um $ninpō$ incrivelmente bizarro, criativo e letal:
Kagero (Iga) e seu sopro venenoso que afeta aqueles que a desejam.
Jubei (Kōga) e seus braços que se esticam como lâminas.
Hotarubi (Iga) e sua manipulação de borboletas.
A série transforma cada batalha em um conto de terror e estratégia. Não há heróis nem vilões claros; há apenas vítimas do destino, forçadas a massacrar aqueles que poderiam ter sido seus aliados ou, no caso de Gennosuke e Oboro, seu amor.
O final, um dos mais trágicos e belos da história do anime, encerra o ciclo de ódio com a morte voluntária de ambos os herdeiros, garantindo que o ciclo de vingança seja quebrado e que eles possam finalmente ficar juntos na morte. O ciclo é fechado; o legado, selado.
Parte II: Basilisk: Ōka Ninpōchō (A Continuação Controversa)
Dez anos após o massacre de Keichō, a história ressurge. Basilisk: Ōka Ninpōchō$ (A Lenda Secreta de Ōka), de 2018, é baseado na sequência do mangá de Masaki Segawa e Tatsuya Ishiki, que por sua vez busca expandir o universo de Fūtarō Yamada.
A grande questão é: Como continuar uma história que teve um fim tão definitivo e perfeito?
Os Filhos do Sacrifício: Hachirō e Hibiki
A continuação se centra nos filhos de Gennosuke e Oboro: Hachirō Kōga e Hibiki Iga. Eles são o resultado de uma união breve e secreta antes da batalha final, tornando-se o símbolo vivo da paz que seus pais desejaram.
Hachirō Kōga: Herdou uma versão aprimorada, mas dolorosa, do $Dōjutsu$ de Gennosuke, o Ōka (Flor de Cerejeira), que o permite ver os pontos vitais dos inimigos.
Hibiki Iga: Possui o $Muen no Kiri$ (Névoa da Não-Conexão), uma habilidade defensiva que anula o $ninpō$ dentro de seu alcance.
O drama aqui é invertido: eles não se odeiam. Eles carregam o peso do legado e são forçados por forças externas a lutar, tentando provar que o amor pode, de fato, triunfar sobre o ódio imposto.
O Novo Conflito: O Jogo do Xogunato
O Xogunato Tokugawa, temendo o poder combinado da nova geração, manipula os dois clãs restantes – agora liderados por cinco ninjas protetores de cada lado – para lutar novamente. O objetivo é escolher um sucessor para o Xogunato entre dois irmãos.
O novo elemento de ameaça são os Jūnibito (Doze Ninjas), um grupo de elite que serve aos interesses do Xogunato. Estes adversários são o motor da ação, apresentando $ninpō$ ainda mais exóticos e destrutivos:
Ninjas que se transformam em diamante.
Manipuladores de sangue.
Guerreiros que usam feromônios para controle mental.
O anime mantém o alto nível de brutalidade e o foco no combate estratégico.
Análise e Comparação: O Legado e a Sombra
Ōka Ninpōchō é, inegavelmente, um produto competente, especialmente em sua animação de ação (cortesia do estúdio Seven Arcs Pictures). Ele preenche a tela com coreografias de luta impressionantes e ninpō visualmente criativos.
O Triunfo e o Calcanhar de Aquiles da Sequência
A Redução da Tragédia: No original, a tragédia era orgânica, nascida do ódio de 400 anos entre os clãs. Na continuação, o conflito é imposto pelo Xogunato. Essa mudança torna a trama mais política e menos visceral. Falta a urgência emocional e o desespero inevitável que definiram o primeiro $Basilisk$.
Personagens Secundários: O elenco de vinte ninjas do original era tão forte que cada morte era um golpe. Em $Ōka Ninpōchō$, os dez protetores dos protagonistas, embora tenham $ninpō$ interessante, não recebem o tempo de tela nem o desenvolvimento necessários para que suas mortes causem o mesmo impacto emocional. Eles servem mais como sacrifícios para a trama do que como indivíduos plenamente realizados.
O Fantasma do Passado: Hachirō e Hibiki são protagonistas interessantes, mas estão sempre sob a sombra de seus pais. O espectador passa muito tempo comparando seu romance ao de Gennosuke e Oboro, e a nova dinâmica (o amor lutando contra a imposição externa) nunca atinge o mesmo pico dramático (o amor lutando contra o ódio internalizado).
Conclusão: Uma Sequência que Honra a Estética, Mas Não o Espírito
Basilisk: Kōga Ninpōchō é uma obra-prima que usou a guerra ninja para contar uma história atemporal sobre o custo da paz e a inevitabilidade do destino. Seu final foi o ápice poético de toda a narrativa.
Basilisk: Ōka Ninpōchō é uma série de ação sólida, brutal e visualmente estimulante. Ela cumpre a missão de expandir o universo e introduzir novos poderes fascinantes. No entanto, ao tentar ressuscitar uma história que já havia tido um final definitivo, ela inevitavelmente se torna uma sombra digna, mas ainda assim uma sombra. É uma série que merece ser vista por quem ama o gênero ninja, mas que deve ser apreciada como uma nova saga de ação, e não como a continuação emocionalmente devastadora do clássico.
O sangue dos clãs continua a correr, mas a beleza da tragédia original, infelizmente, ficou para trás.
Qual dos Basilisk é o seu favorito? Você acha que a continuação deveria ter existido?
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